A Bíblia está repleta de exemplos em que a inteligência de Deus, ou pelo menos sua benevolência, poderia ser questionada. Essas histórias sugerem que Deus, ou quem o criou, não eram muito inteligentes. Essas passagens retratam um Deus que não consegue realizar seus planos de forma eficaz, repetidamente. Deus se assemelha ao personagem Dick Vigarista: sempre com planos malignos que falham.
Aqui estão mais exemplos bíblicos onde Deus, em seus planos, parece optar por caminhos que levantam questionamentos éticos e de eficiência, muitas vezes envolvendo mortes de inocentes enquanto os culpados permanecem ou a situação original não é resolvida. Essas histórias podem ser vistas como exemplos de decisões divinas que, sob uma lente crítica, poderiam ser consideradas "lambanças":
1. A Queda de Jericó (Josué 6:1-27)
Deus instrui os israelitas a marcharem ao redor da cidade de Jericó por sete dias e, no sétimo dia, as muralhas caem.
Problema ético: Após a queda, Deus ordena que a cidade inteira seja destruída, incluindo homens, mulheres, crianças e animais, exceto Raabe e sua família.
Resultado: A destruição é total, mas não resolve o problema maior de conquistar a terra de Canaã, que continua em guerra por gerações.
2. O Dilúvio (Gênesis 6:5-9:17)
Deus decide "limpar" a humanidade por causa da corrupção e do pecado, salvando apenas Noé, sua família e os animais na arca.
Problema ético: A punição coletiva aniquila todos os seres humanos e criaturas, incluindo crianças e animais que não tinham culpa alguma.
Resultado: Após o dilúvio, a humanidade continua a pecar, com episódios como a Torre de Babel (Gênesis 11) mostrando que o plano de "resetar" o mundo falhou.
3. As Dez Pragas do Egito (Êxodo 7-12)
Deus envia uma série de pragas ao Egito para convencer o faraó a libertar os israelitas.
Problema ético: As pragas afetam a população egípcia comum, incluindo crianças, enquanto o faraó, o verdadeiro alvo, permanece teimoso.
Resultado: Deus "endurece o coração do faraó" repetidamente, prolongando o sofrimento de todos, culminando com a morte dos primogênitos egípcios, inclusive de inocentes.
4. O Massacre dos Cananeus (Deuteronômio 20:16-18)
Deus ordena a completa aniquilação dos cananeus e outros povos ao dar a Terra Prometida aos israelitas.
Problema ético: Esse é um genocídio divinamente sancionado, incluindo a morte de crianças e mulheres.
Resultado: Apesar da destruição, os israelitas frequentemente se desviam do caminho de Deus, sugerindo que a eliminação de outros povos não resolveu os problemas espirituais de Israel.
5. A Rebelião de Corá (Números 16:1-35)
Corá e seus seguidores desafiam Moisés e Arão, acusando-os de se colocarem acima do povo. Deus os pune abrindo a terra para engolir Corá e seus aliados, e depois envia fogo para consumir outros 250 seguidores.
Problema ético: Após a execução, Deus envia uma praga que mata mais 14.700 pessoas, incluindo muitas que podem não ter tido envolvimento direto na rebelião.
Resultado: Não há indicação de que essa demonstração de poder tenha mudado significativamente o comportamento do povo de Israel.
6. A Destruição de Sodoma e Gomorra (Gênesis 19)
Deus decide destruir Sodoma e Gomorra por causa de sua maldade, salvando apenas Ló e sua família.
Problema ético: Toda a população das cidades é exterminada, incluindo crianças e outros que poderiam não ter participado diretamente nos pecados.
Resultado: Logo após a fuga, Ló e suas filhas protagonizam um episódio de incesto (Gênesis 19:30-38), mostrando que a "limpeza" não resolveu o problema moral.
7. O Teste de Abraão (Gênesis 22:1-19)
Deus pede que Abraão sacrifique seu filho Isaque como prova de fé, mas interrompe o ato no último momento e substitui o sacrifício por um carneiro.
Problema ético: O trauma emocional causado a Abraão e Isaque é imenso, e o ato de testar alguém com tal exigência levanta questões morais.
Resultado: Embora Abraão passe no teste, não há implicações claras de que tal prova extrema fosse necessária.
8. A Morte de Uzá (2 Samuel 6:6-7)
Enquanto a Arca da Aliança é transportada, Uzá tenta segurá-la ao tropeçar, mas Deus o mata instantaneamente por tocar na arca.
Problema ético: Uzá aparentemente agiu com boa intenção ao evitar que a arca caísse, mas é morto de forma sumária.
Resultado: O incidente causa medo e confusão, mas não parece cumprir nenhum objetivo prático ou moral.
9. Os Meninos que Zombaram de Eliseu (2 Reis 2:23-25)
Um grupo de meninos zombam do profeta Eliseu, e ele os amaldiçoa. Deus envia duas ursas para matar 42 deles.
Problema ético: A resposta é desproporcional, pois são apenas crianças zombando.
Resultado: A história não ensina uma lição clara, exceto a de temer um Deus que pune severamente até os menores erros.
Reflexão Final
Essas histórias levantam uma questão fundamental: se Deus é todo-poderoso e onisciente, por que os planos descritos na Bíblia frequentemente envolvem tanto sofrimento de inocentes? Parece haver um padrão de punição coletiva ou de métodos excessivamente complicados para atingir objetivos que poderiam ser resolvidos de forma mais direta.
Em muitas dessas narrativas, o desfecho não resolve o problema original, sugerindo que essas histórias podem ser mais explicações humanas para eventos passados do que relatos literais da intervenção divina. Assim como o caso de Noé e do dilúvio, esses episódios se tornam simbólicos, mas longe de serem estratégias divinas perfeitas.
Comments