Vamos colocar alguns fatos, que exploramos no livro. Caso essas afirmações soem estranhas para você, sugiro ler novamente o livro.
Religiosos estão mais susceptíveis a caírem em notícias falsas;
Religião não cultiva o criticismo, na verdade, ela inibe o ceticismo, o pensamento crítico;
Bolsonarismo é um movimento religioso;
As notícias falsas do bolsonarismo não teriam efeito se não houvesse religião; seu efeito seria basal, não massivo;
Precisamos para de ter medo de religiosos nos acusando de intolerância religiosa sempre que fazemos uma reflexão sobre os efeitos nefastos da religião na sociedade, nos nossos jovens. É patético um professor sugerir que ensinar Darwin na escola é violar o estado laico. É ridículo ver professores com medo de falar de darwinismo nas escolas. Um professor relatou para mim de que foi agredido por alunos ao tentar falar sobre o criticismo sobre a religião, que seria um bate papo sobre esse livro em uma escola pública. Ele tentou preparar o terreno para uma discussão que havia proposto sobre o livro. Os professores pareciam com medo de me permitir falar com os alunos sobre o livro, como se fosse falar de sexo, ou pior. Havia alertado que o livro critica o criacionismo, entre outras crenças religiosas. Isso mostra o poder oculto da religião na nossa sociedade, explorado por Bolsonaro, e continua sendo explorado com os “conservadores”, “cidadães de bem.” Note que poder oculto da religião me refiro ao evangelho e catolicismo, não me refiro às outras religiões, que sofrem igualmente.
O analfabetismo científico pode ser a nova forma de analfabetismo, que é uma forma do analfabetismo funcional: a pessoa é funcional, mas não consegue questionar algo tão bizarro quanto o criacionismo.
Não é necessário ser muito inteligente para derrubar as estórias religiosas. Grande parte das teorias não param em pé diante de criticismo de crianças, que são oprimidas pelos adultos. Quando uma criança compara Deus com papai Noel, ela é reprimida. Contudo, Deus é basicamente papai Noel para adultos.
O desenvolvimento do pensamento crítico, que tentei desenvolver nesse livro, vai além de rebater notícias falsas em grupos bolsonaristas, ou ver as bizarrices das estórias religiosas. Isso forma cidadãos críticos, críticos o suficiente para não se autodenominar cidadão de bem. Como ouvi uma reflexão: a inteligência consegue perceber sua própria ignorância. A ignorância não é inteligente o suficiente para ver sua própria ignorância.
Religião é um ciclo vicioso. A religião nasce da ignorância, o que alimenta ainda mais ignorância. É um buraco que caímos, sem cordas para sair.
Eu não espero que todas as pessoas virem cientistas, nem mesmo sei como falar “na língua dos anjos”, como falar de forma que até o mais simples entendam. Contudo, podemos pelo menos usar parte do criticismo dos cientistas para termos um sociedade mais crítica, e menos susceptíveis a mentiras.
A religião é uma arma de controle da massa, gostando ou não de ouvir, e enquanto ela existir sem uma contrapartida, nesse caso o pensamento crítico, políticos vão sempre a utilizar para se elegerem e permanecerem no poder. O catolicismo venho ao Brasil no processo de colonização. Tanto os índios quanto os negros vindos da África, que já tinham suas crenças, foram obrigados por sobrevivência a se alinharem ao cristianismo. O cristianismo somente deixou de ser a religião oficial em 1988, com o estado laico, agora em risco por grupos evangélicos que praticam a teologia do domínio, que prega a junça novamente de estado e religião.
O movimento religioso que gerou o evangelho e catolicismo venho da Europa. Contudo, a Europa teve um movimento oposto, foram duas ondas opostas: razão vs. fé. A Europa hoje é um equilíbrio de forças entre o movimento iluminista, que eram cientistas, e a religião dormente. No Brasil, nunca tivemos uma força oposta. Isso significa que a religião continua crescendo. De forma mais precisa, o evangelho, de forma mais precisa, as alas mais radicais do evangelho, os pentecostais e neopentecostais. Dado como eles operam, usando teologia do domínio, o estado brasileiro pode sim estar em risco. Não tivemos nem temos uma forma oposta a movimento religioso.
Se os evangélicos entrarem na política, o Brasil irá para o fundo do poço, o país retrocederá vergonhosamente e matarão em nome de Deus". Brizola
Nesse excelente bate papo, uma pessoa relata que escondeu sua religião por anos, e somente aceitou publicamente quando com idade já avançada1: sua religião é de matriz africana. Ataques a centros de Umbanda disparam quando Bolsonaro foi eleito2.
Quando estão no poder, criam leis que impedem o cidadão de voltar atrás.
Por que um religioso precisa de uma lei antiaborto se teoricamente os seus seguidores compartilham dos mesmos valores? Não seria a religião o suficiente para que as pessoas sigam os valores? precisa também obrigar os fieis e não fieis a seguirem seus valores na marra?
Parte da explicação está no fato de que eles estão fazendo o que fazem de melhor: serem ovelhas. A questão do aborto entre os evangélicos nasceu nos Estados Unidos3. A bíblia não fala nada de aborto, por ser um tema moderno, como será muito outros como inteligência artificial, vida artificial, e robôs. Similar ao caso do movimento antivacina, nasceu de um documentário obscuro, que ganhou popularidade. Mas, como ovelha somente segue, eles simplesmente seguem.
Eu tenho acompanhado discussões entre cristãos e ateus nos Estados Unidos usando o podcast The Atheist Experience.
O que me assusta é a similaridade quase 100% entre os cristãos americanos e os evangélicos brasileiros, que atualmente compõem a bancada evangélica, uma das mais poderosas no Brasil. Temos agora o voto evangélico, algo que decide eleições, sempre decidiu desde o Lula 1. Isso me assusta porque qualquer besteira que eles criaram, e eles criam, será Instantaneamente enviado para o Brasil. E nós não temos uma comunidade ateísta forte, somente 1%; os americanos chegam a 20% de ateístas, com ateístas bem organizados para combater a igreja católica. Seremos colonizados uma segunda vez: agora pelos americanos, sem dar um único tiro, usando o bolsonarismo.
Ser maioria política cria a possibilidade de criarem leis, que impede depois de serem minoria. O uso do poder para interesses de grupos religiosos, de lobby religiosos4. O Irã nem sempre foi um país fundamentalista, o Irã virou um país fundamentalista5. Você consegue ver vídeos coloridos de como era o Irã antes do fundamentalismo religiosos, foi rápido. É inocência, má-fé, ou mesmo ignorância achar que o Brasil não corre o risco de se tornar um país fundamentalista, guiado por grupos (neo) pentecostais6.
A Europa teve o movimento religioso, que atualmente assombra nossa sociedade brasileira, trazido primeiro pela espada da colonização e mais recentemente pelo colonialismo econômico dos Estados Unidos, com o fundamentalismo religioso no congresso, e forte. Contudo, a Europa também teve o movimento iluminista, que eram cientistas que combateram a igreja.
Infelizmente, o Brasil nunca teve um movimento iluminista. Somos um projeto religioso que nunca vingou em sermos a terra de Deus. O nome Belém do Pará não é aleatório: faz parte de um projeto de transformar o Brasil na terra de Deus. Contudo, ficamos com as cicatrizes desse fracasso de colônia religiosa. Somos a nação que mais acredita em Deus, uma armadilha social que parece quase impossível de ser revertida.
A ciência sofre uma vez que depende de pessoas que pensam. Uma vez que ensinar darwinismo é encontrado com agressão, estamos em maus lençóis. Isso não é diferente de não ensinar a contar.
1Como combater a intolerância religiosa no Brasil. https://www.youtube.com/watch?v=WHRjgffVhcE&t=1046s
2Até julho deste ano, número de casos é quase o dobro do observado nos doze meses de 2018. https://www.dgabc.com.br/Noticia/3183225/registros-de-intolerancia-religiosa-disparam-no-grande-abc
3Aborto: como filme dos anos 1970 fez evangélicos se posicionarem contra o aborto. https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1vv969q6keo
4Lobby religioso ameaça direitos da mulher, alerta relator da ONU. https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/03/03/relatorio-onu-brasil-religiao-educacao-sexual.htm
5O Irã vivenciou ao final da década de 1970 uma rápida e intensa transformação política, criando um Estado religioso pautado em preceitos estabelecidos pelo islamismo. https://brasilescola.uol.com.br/geografia/as-transformacoes-politicas-no-ira-revolucao-islamica.htm
6Igrejas neopentecostais ameaçam democracia na América Latina, por Ospina-Valencia. https://jornalggn.com.br/politica/igrejas-neopentecostais-ameacam-democracia-na-america-latina-por-ospina-valencia/
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