Nessa seção, vamos relacionar o capítulo “Answering an Easier Question” do livro do Daniel Kahneman “Thinking, Fast and Slow” às nossas discussões.
Esse capítulo fala sobre a questão das perguntas heurística: uma forma que escapamos da responder questões sendo perguntadas. O bolsonarismo é mestre nisso: o estilo ninja. Sempre que surge uma questão importante, eles tiram o fogo com discussões paralelas.
Usando uma lista providenciada por Daniel Kahneman no livro dele, no final do capítulo em questão.
Características do Sistema 1
Lembrando que o sistema 1 é rápido, o sistema 2 é preguiçoso, lento. O sistema 1 tem respostas para tudo na ponta da língua, o sistema 2 pondera mais, é mais cauteloso. Se o sistema 2 estiver atrofiado, ele pode infelizmente reformar o sistema 1: isso seria o que falamos no capítulo sobre argumentação cebola, seria como exemplo racionalização, dissonância cognitiva em geral.
O sistema 1 faz o seguinte.
- Gera impressões, sentimentos e inclinações; quando endossados pelo Sistema 2, esses se tornam crenças, atitudes e intenções.
Ou seja, quando um bolsonarista diz “bandido bom é bandido morto”, isso vem de uma crença de que a violência resolve problemas. Quando uma pessoa é contra o aborto, a ponto de prender jovens de 13 anos, isso vem de uma crença de que a vida é valiosa, sem considerar nuanças como contexto, “visão de túnel”, como chamamos nas ciências. Quando um bolsonarista diz “direitos humanos é para bandidos”, é uma crença de que pessoas não merecem ser tratadas com dignidade quando cometem crimes. Vamos lembrar que a religião condena pessoas a passaram uma eternidade no inferno por serem LGBTQI+. A função da prisão teoricamente seria para a pessoa pagar a dívida com a sociedade.
- Opera automaticamente e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço, e sem senso de controle voluntário.
Ou seja, a valorização dos comportamentos do Bolsonaro: uma pessoa claramente sem autocontrole. A valorização da violência, da agressão verbal e física.
- Pode ser programado pelo Sistema 2 para mobilizar atenção quando um padrão particular é detectado (busca).
No caso do bolsonarismo, são as pautas de costume, quando qualquer assunto relacionado à religião. Isso explicaria porque pessoas que são socialmente normais, e estudadas, se tornam irracionais em assuntos do movimento, pautas de costume. Uma pessoa defender uma jovem de manter um filho de estuprador é algo difícil de entender racionalmente. Uma pessoa sugerir que uma mulher possa ser estuprada, por qualquer motivo que seja, é algo totalmente sem sentido.
- Liga uma sensação de facilidade cognitiva a ilusões de verdade, sentimentos agradáveis e vigilância reduzida.
As notícias falsas! A facilidade de acreditar nas notícias gera um senso de verdade. As notícias geralmente são propositalmente criadas e espalhas para gerar essa sensação de facilidade cognitiva que gera a ilusões de verdade.
- Infere e inventa causas e intenções.
Esse seria o ponto mais fonte nos bolsonaristas: eles criam causas e intenções.
Como exemplo, eles conseguiram acabar com as saidinhas dos presos. Isso seria devido ao aumento da violência nos feriados, quando a saidinha era ativada. Vamos lembrar que nos feriados, temos também “os cidadães de bem” circulando livremente por ser um feriado. Não temos dizer com certeza de que são realmente esses criminosos que aumentam a criminalidade. Além do mais, o objetivo da saidinha é ajudar os presos a retornarem à sociedade, depois de anos preso. Na cabeça deles, dos bolsonaristas, todo bandido é eternamente bandido; vamos lembrar que não somos temos metade da bancada do PL sobre investigação como inúmeros casos de crimes cometido por parlamentares e “cidadães de bem”.
- Negligencia ambiguidade e suprime a dúvida.
Sempre simplificam os debates. O debate sobre o aborto das jovens, eles reduziram ao um vídeo que circula de um feto de 22 semanas depois de sair da barriga da mãe; existem também inúmero casos de fetos prematuros bem mais avançados que morrem. Contudo, o ponto aqui é o direito da mulher e proteção da jovem, estuprada.
- Tem tendência a acreditar e confirmar.
Isso é o motor das notícias falsas que eles criam e espalham.
- Exagera a consistência emocional (efeito halo).
O termo “cidadão de bem” seria isso. Quando estamos diante de um cidadão de bem, associamos a eles atributos além do que merecem, como pastores deixados sozinho com crianças. Os casos de estupros de jovens por pastores pipocam quase diariamente nas mídias.
- Foca em evidências existentes e ignora evidências ausentes (WYSIATI - What You See Is All There Is ).
Outra base das notícias falsas.
- Gera um conjunto limitado de avaliações básicas.
- Representa conjuntos por normas e protótipos, não integra.
A questão da religião, e militar. Competência se torna ser pastor ou ser militar, a integridade e moral e honestidade se reduz a ser pastor ou militar.
- Calcula mais do que o pretendido (espingarda mental).
- Às vezes substitui uma pergunta mais fácil por uma difícil (heurísticas).
A pergunta de quando começa a vida no aborto é trocada por se deveríamos mantar ou não uma criança. Isso muda o foco da discussão. A pergunta deveria ser se uma jovem deveria carregar o filho de um estuprado. Claro que não!
- É mais sensível a mudanças do que a estados (teoria da perspectiva)*.
- Superestima probabilidades baixas.
Sabe qual a probabilidade do Brasil virar Venezuela? Baixa. Somos países com histórias diferentes. Sabe qual a probabilidade do Lula fechar igrejas? Zero. Não há quaisquer evidências do Lula ameaçando igrejas evangélicas, como ocorreu na África e largamente citado nos debates na corrida presidencial. Na África, os evangélicos são minoria, aqui são maioria, como eles mesmo se gabam constantemente.
- Mostra sensibilidade diminuída à quantidade (psicofísica).
O caso que citei, sobre a checagem de fatos do debate entre Lula e Bolsonaro: 4 mentiras do Lula, contra 14 do Bolsonaro. Bolsonaro mentia diariamente, mas isso era ignorando, mas quando Lula mente/erra, fazem uma guerra nuclear. Como o caso do Lula ter errado o número de crianças em Gaza mortas pela guerra de Israel1. Seja 15.000, seja milhões, são crianças morrendo nessa guerra, pouco importa o número correto. Poderia ser uma criança, e deveríamos lutar contra.
1 Lula erra e diz que 12,3 milhões de crianças morreram em Gaza.(https://www.poder360.com.br/governo/lula-erra-e-diz-que-123-milhoes-de-criancas-morreram-em-gaza)
Tirado do meu livro "Ciência para não cientistas: como ser mais racional em um mundo cada vez mais irracional (vol. 1: bolsonarismo)"
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